Espírito crítico

"Sem liberdade de criticar, não existe elogio sincero. "
(Pierre Beaumarchais)

"Quem se enfada pelas críticas, reconhece que as tenha merecido."
(Tácito)

"Onde não se pode criticar, todos os elogios são suspeitos."
(Ayaan Hirsi Ali)


"Só tem o direito de criticar aquele que pretende ajudar."
(Abraham Lincoln)

quinta-feira, 1 de março de 2007

Pelo bem das pessoas...

Estou profundamente triste com o estado a que chegou a Educação em Portugal. A Ministra da Educação não tem um rumo, limita-se a lançar para o ar uma série de ideias sem aplicação prática, com o único objectivo de explorar os professores.
Reparem nas graves contradições:
1ª Os alunos que estão agora no sétimo ano andaram a aprender até ao sexto a antiga terminologia linguística, no sétimo estão a aprender a nova Terminologia Linguística dos Ensinos Básico e Secundário, mas no oitavo voltarão a aprender a antiga, pois a Senhora Ministra suspendeu a adopção de novos manuais para o oitavo. Assim, está a fazer de cobaias dezenas de milhares de alunos que frequentam o sétimo ano neste país.
2ª Embora os tribunais tenham dado razão aos professores, a Ministra continua a obrigar os professores, depois de darem as suas aulas, a substituírem gratuitamente os colegas que faltam, escravizando uma classe e prejudicando os professores que não faltam.
3ª Obrigando os professores a estar na escola, mesmo que não tenham aulas, condena os professores a trabalharem imenso em casa, durante a noite, para corrigirem testes e prepararem aulas, prejudicando o seu descanso e criando mais “stress”.
4ª Avaliando os professores pelos resultados dos alunos, a Ministra vai fazer com que todos eles tenham boas notas, sem necessitarem de estudar nem de fazerem os trabalhos de casa, pois estão proibidos. Vamos ter uma geração de alunos sem formação, porque estarão habituados a ter tudo de mão beijada. Será que a vida vai oferecer-lhes sempre tudo com facilidade? Talvez para aqueles que forem convidados para Ministros.
5ª Ao não diminuir o número máximo de alunos por turma, a Senhora Ministra continua a mostrar que não se preocupa com a qualidade da educação, mas com a melhor forma de fechar escolas e desertificar o interior.
6ª Recentemente, lançou a ideia do professor tutor no 2º ciclo, que não será mais do que dar outro nome ao Director de Turma, porque no Estatuto da Carreira Docente que a Ministra aprovou sozinha recentemente, dois terços da formação dos professores terá de ser na sua área. Assim, se os professores de Professores de Língua Portuguesa tiverem de dar Matemática e vice-versa, tê-lo-ão de fazer sem formação, senão estariam a violar o Estatuto da Ministra. Os professores que vierem a ser formados para o efeito, daqui a cinco anos, não terão vagas no ensino e irão para o desemprego.
7º Diz-se que o novo Estatuto entrou recentemente em vigor, mas o (des)Governo “congelou” (“apagou” seria a palavra mais correcta, porque esse período nunca será descongelado) o tempo de serviço por mais um ano, por conseguinte, mesmo que os professores tenham classificação de “excelente” não progredirão na carreira, ou seja, para os efeitos de progressão o novo Estatuto não entrou em vigor, só está em vigor nos aspectos que permitem à Ministra torturar os docentes.
8º A Ministra farta-se de dizer que quer premiar os bons professores, mas o critério para passar a professor titular não tem a ver com o mérito, mas com o tempo de serviço.
9º A Ministra diz que os resultados nos Exames Nacionais do 9º ano são insatisfatórios às disciplinas de Língua Portuguesa e de Matemática. Isto só acontece, porque ainda não foram alargados às outras disciplinas. Os resultados seriam iguais a todas as disciplinas, porque os alunos sabem que têm sucesso quer estudem, quer não, pois o que a Ministra quer é que eles transitem de ano, mesmo que não tenham atingido as competências, por causa das estatísticas. É desta exigência que a Ministra fala?
São contradições típicas de alguém que não sabe o que quer e que dirige o ministério que mais necessitava de uma visão estratégica.


Mas a exploração não é só aos professores.
O Primeiro-Ministro, quando foi eleito, depois de prometer que não mexia nos impostos, além de aumentar o IVA, anunciou que aumentava o imposto sobre os produtos petrolíferos para não criar as portagens nas SCUT, no entanto, lembrou-se de criar portagens nas SCUT, ao contrário do que tinha prometido com pompa e circunstância, e não diminuiu o imposto sobre os produtos petrolíferos, ou seja, tira-nos dinheiro de duas formas!
O Governo contratou alguns assessores para dizerem na comunicação social que o país está em crise, para que as pessoas aceitem de bom grado o aumento de todos os impostos. No entanto, a dita “crise” permite que os gestores de empresas públicas sejam aumentados 200% e os membros do governo 6%. Talvez seja verdade que haja crise, mas a crise é só para alguns que desde há oito anos não têm aumentos reais.
O governo considera um investimento mais produtivo utilizar o dinheiro dos contribuintes para pagar a médicos para matar fetos, do que possibilitar um médico de família a todos os utentes do Serviço Nacional de Saúde. Por falta de dinheiro não será, pois o Ministro da Saúde disse recentemente que havia muito dinheiro para pagar as interrupções voluntárias das gravidezes nos hospitais públicos.
Este (des)Governo insiste que as medidas que toma contra as pessoas são pelo bem do país, mas eu considero que o país é uma entidade que representa as pessoas que nele habitam, por isso as decisões de um bom Governo deveriam ser pelo bem das pessoas. Só beneficiando as pessoas é que se beneficiaria o país.
Jorge Almeida
jorgemralmeida@gmail.com

2 comentários:

José Carrancudo disse...

Pelos vistos, o Governo anda igualmente triste, e ainda completamente perdido. Pois a crise não se resolve com medidas administrativas. Publicamos uma análise que identifica as principais razões da crise na Educação, de ordem metódica, e indica o caminho de saída. Esperemos que o Governo saiba ouvir a voz da Razão. Devemos todos exigir uma acção urgente!

Jorge Almeida disse...

Gostei da análise que identifica as principais razões da crise na Educação, de ordem metódica, e indica o caminho de saída. No entanto, penso que os indivíduos da nação andam demasiado ocupados a pensar onde espremer para pagarem banquetes, em vez de se preocuparem com os portugueses!